Fibromialgia: Gatilhos Emocionais
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Fibromialgia: Gatilhos Emocionais

Vou iniciar o texto falando de câncer para contextualizar que, 1- Eu sinto "culpa" há mais de 3 anos e, 2- Que nem sempre é fácil deixar de senti-la.


A quimioterapia é um processo muito intenso, que acaba com suas forças e faz você se sentir um ser humano sem dignidade. Você só quer ficar quietinha, encolhida em uma posição de conforto para esperar tudo aquilo passar. Agora, imagine-se passando por uma quimioterapia, sem cabelo, com olheiras profundas, fraco, sentindo-se fraco, frágil e inseguro, precisando urgentemente ser acolhido e...com medo de ser traído ou abandonado pelo parceiro? Parece impensável, não é?

Mas, infelizmente, é mais comum do que eu imaginava- e eu só me dei conta disso ao ver várias colegas sendo abandonadas por seus parceiros por motivos absurdos. Certa vez, uma que estava ao meu lado recebeu uma mensagem do noivo dizendo que não poderia casar com uma mulher que não tinha seios. Ela imediatamente ficou pálida. Amava o noivo dela, tinha sonhos de viver uma vida com ele. É como se o motivo pelo qual ela lutava para viver não existisse mais. Imagine o abalo psicológico que aquilo causou nela e o quanto pode ter sido prejudicial ao seu tratamento de modo geral?

A maioria das mulheres sentia-se culpadas por ter câncer e por sentirem-se mal em grande parte do tempo. O sentimento comum era de que nenhum homem iria querer uma mulher doente e que, os homens têm "necessidades fisiológicas" que precisariam ser supridas fora do relacionamento.


Por isso, quando eu conheci o Lucas, eu achei que ele tinha algum problema psicológico, porque eu simplesmente não acreditava que ele realmente queria ficar comigo. Enquanto todos os homens fugiam de acompanhar suas parceiras na quimioterapia, o Lucas praticamente implorava para ir comigo. Enquanto os homens não aguentavam ver suas esposas vomitando, ele cuidava de mim, me limpava, me ajudava a andar, cozinhava pra mim e tudo mais que fosse preciso.


E, mesmo ele sendo esse homem incrível e nunca ter dado a entender que me deixaria ou me "trocaria" por uma mulher saudável, o sentimento de culpa não me abandonava. Estava lá comigo o tempo todo, por absolutamente tudo. Ainda que eu soubesse que não tinha controle sobre a maioria das coisas que estavam acontecendo comigo, e, principalmente ainda que eu tivesse certeza que o Lucas não me julgava ou achava que eu estava fazendo "corpo mole", sentia-me culpada por não conseguir atingir as expectativas que eu achava que ele tinha.

E é assim até hoje (agora não mais pelo câncer, mas pela Fibromialgia e pela Artrite Reumatóide). Estou aprendendo novas formas de desenvolver minhas atividades do dia-a-dia, aprendendo a interpretar e conhecer os meus gatilhos emocionais que desencadeiam as crises que, por vezes, duram dias e só vão embora quando eu finalmente consigo deixar o sentimento reprimido sair de mim. Como eu tenho feito isso? Questionando os motivos pelos quais eu sinto culpa e encontrando soluções por exemplo:


Razão pela qual eu sinto culpa: Eu demoro muito tempo para conseguir levantar de manhã. É uma verdadeira luta, pois sinto muitas dores e não consigo caminhar e ir para a empresa acaba sendo uma missão dolorosa e impossível.

Solução: Trouxe a cadeira do escritório e o notebook para casa e, quando sinto-me pronta, geralmente entre às 09:30 e 10:00, começo a trabalhar.


Razão pela qual eu sinto culpa: Sou exigente, perfeccionista e tenho receio de que, sem minha presença na empresa, as coisas não saiam do modo como eu determinei que saíssem.

Solução: Deixar duas pessoas que amam a Namaste tanto quanto eu na Administração da clínica. Ambos estão cientes de minhas limitações, comunicam-me absolutamente tudo que acontece, enviam-me relatórios diários e me incluem em todas as decisões a serem tomadas, ou seja: mesmo aqui de casa, consigo administrar a minha empresa.


Razão pela qual eu sinto culpa: A fibromialgia é invisível, não consegue ser comprovada com exames de imagem e/ou laboratoriais, mas as dores são reais, limitantes e incapacitantes, e tenho medo que meus familiares (esposo, equipe, amigos...) pensem que estou inventando tudo isso, ou que sou preguiçosa e estou fazendo corpo mole.

Solução: Muitas pessoas julgam porque desconhecem. Então, tenho utilizado a visibilidade e confiança que a Namaste conquistou em seus três anos de existência para compartilhar com o máximo de pessoas possíveis os desafios que uma pessoa com Fibromialgia enfrenta em seu dia-a-dia.



Autoconhecimento tem sido o caminho que eu encontrei para reduzir a frequência das crises e ganhar qualidade de vida. A escolha de como irei passar por tudo isso é minha, e depende da aceitação que tenho da minha atual condição. Preciso compreender que minha vida mudou e eu preciso me adaptar às mudanças em vez de resistir a elas.


Ah! E o Lucas continua ao meu lado, firme e forte. Eu tenho muita sorte de poder contar com ele!



Abraços fraternos,

Luana Cardoso.

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